A mentalidade institucional do Avaí tem que mudar

Quem frequenta as rodas de torcedores, sabe que muitos avaianos estão feridos, não se sentem mais representados pelo clube do coração.

Quem frequenta o estádio, sabe que o clima de união, aquela atmosfera de apoio incondicional que vigia no passado, não mais existe.

Dentre as centenas de depoimentos que recebemos desde o lançamento do MOVIMENTO NOSSO AVAÍ, a maioria, pasmem, não é de torcedores reclamando dos trágicos resultados esportivos recentes, mas de pessoas insatisfeitas com o tratamento recebido pelo clube. Essa ruptura foi alimentada paulatinamente, por sucessivas manifestações institucionais de desapreço, e gerou danos de difícil reversão no espírito dos adeptos.

O torcedor é a razão existencial do Avaí. Mas não é só isso. Ele também é o maior “cliente” da instituição. É quem paga mensalidades e ingressos, dá visibilidade aos patrocinadores, consome produtos oficiais, dá audiência às transmissões e incentiva o time em busca das vitórias. 

Seja por uma obrigação moral, seja por uma lógica puramente comercial, é de se esperar que cada ação do clube, das menos significantes às mais relevantes, da escolha do cardápio dos bares do estádio à formulação dos planos de sócios, tenha como fim último a satisfação da nação azul e branca. 

Se os resultados esportivos, em uma modalidade menos previsível como o futebol, muitas vezes ficam à mercê do imponderável, fugindo do controle dos dirigentes, o mesmo não se pode dizer do trato com a torcida, tarefa dependente apenas de atenção e capricho. 

Entretanto, no Avaí dos últimos anos, ao menos no que se refere ao zelo com o torcedor, as coisas estão de cabeça para baixo.

Declarações de menosprezo aos sócios, em certa oportunidade endossadas por nota oficial; políticas de ingresso pouco inclusivas, acompanhadas de declarações segundo as quais “o torcedor tem que pagar caro”; venda de mando de campo para um adversário, contra as manifestações do torcedor; adoção reiterada de uniformes rejeitados maciçamente; perfis em redes sociais, oficiais e de funcionários, desafiando torcedores descontentes; descaso para com membros do Conselho Deliberativo: essa conjugação inacreditável de acontecimentos nos revela que, no Avaí, o torcedor é encarado como um entrave, um fardo a ser suportado. 

Esse desdém institucional não passa despercebido. Receamos que, a persistir essa mentalidade, os torcedores gradualmente se afastem, deixem de consumir o Avaí, e que as novas gerações, expostas a infinitas formas de lazer mais recompensadoras, não mais se interessem pelo maior clube de Santa Catarina.

Paradoxalmente, ao mesmo tempo em que age dessa forma, o Avaí tem apostado no sentimento do seu torcedor para tentar vender seus produtos. Iniciativas como a campanha de associação, o Avaí Token e o Avaí Bank se preocuparam muito mais em apelar à paixão do avaiano do que a demonstrar vantagens palpáveis a ele. Coincidência ou não, nenhuma delas alcançou o resultado desejado.

A intenção deste texto não é abordar de forma aprofundada aspectos relativos a marketing, compliance e estratégias de governança corporativa. No futuro, especialistas em tais temas tratarão deles com a visão técnica necessária. Nesta ocasião, só gostaríamos de chamar a atenção para algo que parece óbvio a qualquer torcedor que tenha vivido ativamente o clube na última década: a mentalidade institucional no Avaí tem que mudar.

Cada dirigente e funcionário do clube, a começar pelo seu Presidente, deve eleger como prioridade a satisfação do torcedor. Como em qualquer empresa que depende dos seus clientes, esse norte deve estar presente em cada escolha do cotidiano, por menor que seja. Deve ser um mantra na Ressacada.

Sempre que uma atendente destratar um torcedor, um funcionário não responder a um e-mail, uma carteirinha for indevidamente bloqueada na catraca, um segurança for indelicado com um sócio, uma campanha de marketing não for bem aceita ou um dirigente prestar declarações que diminuam a torcida, o clima dentro da Ressacada deve ser de irresignação. Os responsáveis devem ser duramente cobrados e os rumos corrigidos.

O MOVIMENTO NOSSO AVAÍ acredita que essa guinada na mentalidade é a pedra fundamental para qualquer tentativa de reaproximação com a torcida. Só assim resgataremos aqueles avaianos que se afastaram, conquistaremos novos torcedores e retomaremos os laços de identificação entre o clube e sua gente.

Publicado por Eduardo Roberge Goedert

Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Fundador do portal Troféu Avaí. Conselheiro do Avaí Futebol Clube, pelo segundo mandato.

3 comentários em “A mentalidade institucional do Avaí tem que mudar

  1. Perfeito!! É tão simples abrir um canal de relacionamento com a torcida para receber críticas e sugestões hoje em dia, mas enquanto o poder for centralizado em uma única pessoa vai ser difícil.

  2. É um resumo do que acontece na instituição durante essa gestão. Não temos nada a acrescentar, o texto e perfeito.
    Parabéns aos envolvidos.

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