Profissionalismo: o norte na tomada de decisão

Um dos princípios do movimento Nosso Avaí é o PROFISSIONALISMO. Durante a fase de pré-lançamento do projeto, certamente esse foi o pedido da maioria daqueles com quem conversamos sobre o início do Movimento. Temas como “respeito ao torcedor”, “fim de escolhas pessoais”, “mais transparência na gestão” fatalmente encontram abrigo num clube que preza pelo profissionalismo, ou seja, que trata com seriedade profissional todos os aspectos do clube.

Na última semana, observamos, no âmbito do Avaí, dois casos que são emblemáticos para explicarmos como um clube faz as coisas de maneira profissional ou não. Desde já ressaltamos que este texto não tem o intuito de discutir o mérito das ações, mas a sua forma. Com isso também se atém à nossa premissa de não sermos pautados por resultados.​​

A contratação de um treinador, assim como a de outros funcionários, deve ser motivada por aspectos técnicos

Em nossa visão, a contratação de um técnico deve respeitar critérios objetivos:

  • Ideia de jogo;
  • Perfil para o elenco do clube;
  • Métodos de trabalho de campo e sua aplicação;
  • Gestão de Pessoas
  • Adequação salarial ao perfil do clube.

Uma vez preenchidos esses requisitos, é papel do clube fornecer todas as condições para que esse profissional desenvolva seu trabalho com plenitude, mas sempre tendo em mente que o técnico é um funcionário do clube, deve satisfações de seus atos e seu trabalho será periodicamente avaliado pelo departamento de futebol, unidade imediata e hierarquicamente superior, e pela diretoria executiva.

Para que haja condições de uma avaliação criteriosa do trabalho realizado em campo, novamente, há que se ter uma postura estritamente profissional nessa relação hierárquica, sob pena de miopia na avaliação em virtude de não se ter critérios objetivos com o que se quer do trabalho. Lembrando, o técnico está na casamata para comandar o time que representa a torcida e suas ambições. É uma responsabilidade muito grande e que deve ser tratada da forma mais moderna e dinâmica possível.

A avaliação do trabalho de um treinador, obviamente, não deve se limitar à verificação do placar final dos jogos – se ganhou, está indo bem; se perdeu, está indo mal. Não acreditamos nisso. Acreditamos que um departamento de futebol forte, bem preparado e com autonomia tem condições de verificar aspectos específicos, como:

  • Capacidade de transmissão do conhecimento nos treinamentos e assimilação dos atletas;
  • Relação interpessoal e gestão do elenco;
  • Potencialização de atletas;
  • Aproveitamento de atletas da base;
  • Evolução do rendimento da equipe jogo a jogo.

Pode haver inúmeros critérios, mas todos eles devem ser pelo viés profissional e sem traço de pessoalidade algum. O objetivo do Avaí como instituição não é formar uma família ou se preocupar apenas com a satisfação interna de seus colaboradores e dirigentes. É promover resultado esportivo visando a satisfação do torcedor.

No futebol profissional não há mais espaço para decisões tomadas por vias pessoais, por superstições ou por critérios que não sejam aqueles específicos da prática do futebol. Amizades com dirigentes, identificação com o clube por antigas passagens, místicas de maneira geral como “fato novo” e “soco na mesa” não podem ser critério de contratação e avaliação de trabalho técnico. Jorge Jesus sequer sabia que o Flamengo era vermelho e preto ou amarelo. Ele veio, implementou seu trabalho e suas ideias e venceu. 

As decisões devem ser de responsabilidade da unidade competente

Se as decisões devem ser tomadas com base técnica e sem pessoalidade, também não há espaço para decisões pautadas em interferências de outras instâncias da vida política do clube. O respeito às áreas de conhecimento, às funções administrativas e aos órgãos correspondentes dentro do clube também corroboram para o método de trabalho pautado no profissionalismo. Um clube associativo como o Avaí tem diversas representações, como o Conselho Fiscal, Conselho Deliberativo e Assembleia de Sócios. Porém, são unidades de deliberação, fiscalização e controle do clube como entidade social e devem se ater ao que prevê o estatuto. 

Interferências políticas, pressões em áreas específicas não fazem bem ao andamento do clube no cumprimento de suas metas, criando cisões e rusgas desnecessárias, por mais que o objetivo do ato seja visando o bem do Avaí e tenha o objetivo de ajudar. Além disso, abre precedentes perigosos que podem ser prejudiciais no futuro e não corrobora para que o torcedor tenha clara a função de cada instância administrativa. Pedir a saída de treinador ou de qualquer profissional do clube por meio de manifestação explícita de órgão colegiado não corresponde a nenhum critério técnico mencionado no primeiro ponto deste texto. Logo, não deve ser parte da tomada de decisão.

Enquanto não houver critérios claros e objetivos, o Avaí sempre terá dificuldade na hora de tomar decisões importantes. Por isso a relação estritamente profissional é a salvaguarda do clube e de seus representantes na hora de escolher o que é melhor para a instituição.

Publicado por Rafael Xavier dos Passos

Jornalista, apresentador do Troféu Debate, Conselheiro do Avaí e avaiano desde sempre. Co-autor do livro “1973: Encontro marcado com seus dias de glória”.

2 comentários em “Profissionalismo: o norte na tomada de decisão

  1. Texto muito interessante. Não há critérios de contratação: técnico, custo benefício, profissionalismo, comportamental, hj dados fáceis de se buscar. Mas antes de tudo isso é necessária uma reforma estatutária e a criação de um organograma de gestão bem definido. Ninguém entende a estrutura do clube.

  2. Texto muito bom! Acredito que esse seria o trabalho de uma boa gestão, sem parcialidades e interesses pessoais, realizando um planejamento estratégico e fazendo uso de critérios fixos e indicadores para avaliação. O Avaí tem uma estrutura muito capaz de tomar conta de tudo isso.

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