Receita com bilheteria em 2021: cumpriremos o valor orçado?

O orçamento do ano de 2021 publicado pelo Avaí [1] estima arrecadação de R$ 1.035.000,00 com a bilheteria dos jogos. Desde março de 2020, as partidas ocorrem sem a presença de público em função da pandemia. Deste modo, não há entradas de recursos com portões fechados. O Avaí não foi o único que estimou receitas com bilheteria para o ano de 2021, já que mais alguns clubes avaliaram que, em dado momento do ano, haveria possibilidade de presença de público nos estádios [2]. Nesta postagem, apresento algumas discussões com relação ao cenário que se apresenta até o final de 2021 e reflexões sobre o processo orçamentário do clube.

No momento em que escrevo (junho/2021) o clube possui ainda 16 jogos para fazer em casa, referentes ao Campeonato Brasileiro da Série B. Não há, até o momento, indícios que tais partidas serão disputadas com público no estádio. Mesmo que o cenário se altere, a partir de experiências de países como Estados Unidos, Portugal e Inglaterra, espera-se que haja restrições num primeiro momento até que se estabeleça a possibilidade de liberação total.

Com relação a receita estimada pelo Avaí em 2021, aponto que esta apresenta nível semelhante ao de 2018. Naquele ano, houve uma receita realizada de R$ 1.391.494,00 [3], a qual teve como fonte majoritária o Campeonato Brasileiro de 2018 (R$ 1.015.357,00) [4]. Portanto, ao comparar o valor do Campeonato Brasileiro de 2018 com a arrecadação estimada de 2021, percebe-se que os valores são próximos. Na figura abaixo, podemos observar como esses valores foram arrecadados por partida disputada em casa.

A partir de uma análise mais detalhada, percebe-se que a maioria dos jogos apresentam baixa arrecadação. Em 14 jogos a arrecadação foi inferior a R$ 30.000,00. Somente em três partidas o clube arrecadou mais de R$ 100.000,00. Cabe ressaltar que nos borderôs dos jogos atribui-se a cada sócio presente ao estádio o valor mínimo determinado pela competição (no caso da Série B de 2018 – R$ 20) para cálculo de tributos. Entretanto, esse valor não é arrecadado diretamente via bilheteria, mas sim via sócio-torcedor, de acordo com a Orientação Técnica Geral (OTG) 2003, do Conselho Federal de Contabilidade [5]. Portanto, a arrecadação divulgada nos borderôs, que inclui sócios e venda de ingressos, é superior à apresentada aqui, que considera apenas a venda de ingressos (bilheteria).

Nota-se que os valores com maior arrecadação foram os jogos decisivos da competição. O clássico contra o Figueirense (que não ocorrerá na Série B em 2021) e os quatro jogos da reta final. Em função da alta probabilidade de acesso (o clube estava no G4 nas rodadas finais), promoções e ações foram realizadas nas partidas decisivas para atrair maior público [6].

Pela análise dos borderôs, nota-se que a maioria dos jogos conta com presença majoritária dos sócios (média de 74% do público total, tendo jogos com presença superior a 90%). Portanto, mesmo que as partidas voltem em 2021, caso o cenário de 2018 se mantenha, há elevado risco de esta receita não ser realizada em sua totalidade.

Destaco que o Flamengo apresentou orçamento para o ano de 2021 com estimativa de arrecadação via bilheteria de R$ 100 milhões. Entretanto, recentemente, o clube se manifestou afirmando que uma revisão do orçamento foi realizada para adequá-lo à realidade que vivemos [7].

Considerando o aumento da dívida, especialmente trabalhista e tributária, no ano de 2020, aponto que o não atingimento de uma meta de receita tem impacto significativo na capacidade de realizar pagamentos. A estimativa de salários e encargos mensais foi de aproximadamente R$ 1.216.418,00, sendo muito próxima ao valor estimado com a bilheteria anual. Nesse sentido, infere-se que o valor anual de bilheteria é quase equivalente ao pagamento de uma folha salarial. O exemplo é apenas um cenário teórico, mas passa uma mensagem clara. É urgente que o cenário traçado para as receitas com bilheteria seja revisto.

Reforço que torna-se relevante compreender os critérios utilizados para estimativa das receitas bem como revisão das metas, caso estas não sejam realizáveis. O cenário para receitas e despesas deve ser revisitado recorrentemente, já que o que planejamos não necessariamente irá se estabelecer.

E tu? Qual tua opinião a respeito do valor orçado pelo clube. Consideras adequado? Acreditas que cumpriremos o valor orçado? Deixe a tua opinião, dúvida ou sugestão nos comentários.

Por Fábio Minatto. Doutorando, mestre e graduado em Contabilidade na Universidade Federal de Santa Catarina. Veja mais

[1] https://www.avai.com.br/novo/orcamento-2021/

[2] https://globoesporte.globo.com/blogs/blog-do-rodrigo-capelo/post/2021/03/15/um-ano-sem-publico-nos-estadios-clubes-acumulam-frustracoes-financeiras-sem-as-bilheterias.ghtml

[3] https://www.avai.com.br/novo/wp-content/uploads/2020/07/demonstracoes-2018-2.pdf

[4] Dados dos borderôs dos jogos em casa do Avaí, disponíveis no site da CBF.

[5] https://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/OTG_2003.pdf

[6] https://globoesporte.globo.com/sc/futebol/times/avai/noticia/avai-mantem-promocao-e-vende-ingressos-para-jogo-com-o-fortaleza-a-partir-de-r-5.ghtml

[7] https://globoesporte.globo.com/blogs/blog-do-rodrigo-capelo/post/2021/03/29/sem-publico-nos-estadios-e-com-bilheterias-zeradas-flamengo-readequara-orcamento-para-2021.ghtml

Publicado por Felipe Ferreira Bem Silva

Jornalista. Sócio do Avaí desde 2006. Conselheiro entre 2011 e 2013. Coautor do livro “1973: Encontro marcado com seus dias de glória”.

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