A nova (velha) política dos preços de ingressos

Diz-se que insanidade é realizar repetidamente as mesmas coisas e esperar resultados diferentes. A prevalecer essa máxima, pode-se dizer que a política de preços de ingressos no Avaí em seus anos de Série A contém uma pitada de loucura.

Ontem, o novo Diretor Executivo do Leão, Cláudio Gomes, compareceu à reunião do Conselho Deliberativo e submeteu ao colegiado a proposta de novos planos de sócios, com atualização inflacionária dos valores e destaque para a criação de categorias que privilegiam as famílias e os jovens; apresentou excelentes ideias para o incremento do match day na Ressacada, inclusive relativas à melhoria dos serviços oferecidos no estádio; e, além disso, levou ao conhecimento dos conselheiros os novos valores de ingressos para o Campeonato Brasileiro da Série A.

Apesar da satisfatória abordagem dos primeiros temas – os valores dos planos de sócios já se encontravam congelados há muito, apesar da ampla incidência inflacionária do período, e a melhoria na experiência do torcedor que frequenta o estádio é urgente -, a política de valores de ingressos, em especial, nos causa preocupação.

Segundo o diretor, os valores dos ingressos, para as partidas de maior apelo (o chamado “Grupo 1”), serão R$ 200 no Setor A, R$ 150 no Setor B e R$ 180,00 nos Setores C, D e E; para aqueles jogos de menor visibilidade (“Grupo 2”), serão R$ 150 no Setor A, R$ 120 no Setor B e R$ 150,00 nos Setores C, D e E . Prevê-se um desconto aos sócios para a compra das entradas, mas este não foi quantificado. Vale registrar que, segundo o Estatuto, a definição dos valores dos ingressos cabe à Diretoria Executiva, sem ingerência do Conselho.

No nosso entendimento, não foram apresentadas razões mercadológicas convincentes para a abrupta multiplicação dos valores dos ingressos. A medida, a bem da verdade, parece se centrar em duas ideias: a) a intenção de “forçar” o torcedor a se associar, dada a disparidade entre os valores adotados para ingressos avulsos e os planos de sócios; b) viabilizar a cobrança de valores maiores dos torcedores visitantes, tendo em vista as restrições regulamentares que impedem a adoção de preços destoantes para aqueles.

Desde 2010, as participações do Avaí na Série A têm sido acompanhadas de políticas de ingresso semelhantes, com os mesmos propósitos. Os efeitos, entretanto, foram o lamentável estremecimento da relação entre clube e torcida; a conservação de uma atmosfera “fria” no estádio, com as partidas muitas vezes em clima de abandono e até mesmo prevalência das torcidas visitantes, em prejuízo à imagem e ao desempenho do Avaí; e, por fim, a necessidade de se recorrer a promoções de “fim de feira” no decorrer dos torneios, como medida desesperada para convocar os avaianos. Não nos parece razoável esperar efeitos diferentes desta vez.

De outro lado, também não nos soa justo quantificar os ingressos com base na receita esperada com a torcida visitante. A receita com visitantes, principalmente nos jogos em que as maiores torcidas do país comparecem ao estádio, não pode ser desprezada, é claro. Contudo, pensamos que o Avaí deve adotar suas políticas pensando, primeiramente, em sua massa de apoiadores, quem frequenta reiteradamente o seu estádio. A possibilidade do sócio comprar ingresso com preço reduzido pode ser, talvez, uma saída viável para “driblar” os altos preços. No entanto, o projeto não foi apresentado com maior especificidade, quando, nessas condições, deveria ter sido o ponto de maior enfoque, prejudicando sua avaliação. Além disso, mesmo em tese, não contemplaria todos os avaianos.

Acreditamos em um Avaí que tome iniciativas para trazer o torcedor para perto de si. Em um campeonato no qual somos o competidor de menor orçamento, aliás, a criação de uma relação de cumplicidade entre direção, time e torcida, de um clima de união “contra tudo e contra todos”, pode ser decisiva para os êxitos esportivos. A adoção de uma política de preços como a divulgada, no entanto, significa, a nosso ver, um longo passo em sentido contrário.

Lembramos, por fim, que o torneio sequer começou e que, portanto, há tempo para a revisão da medida. A reavaliação dos valores, ainda que logo depois de sua divulgação, não representaria amadorismo, mas sensibilidade diante da realidade e da repercussão negativa da providência.

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