Todos permitimos que o Avaí quebrasse. SAF pode ser uma solução (ou não).

O mau desempenho do time do Avaí nas competições é preocupante e demanda uma forte resposta dos diretores e jogadores. Há, porém, uma questão ainda mais importante e delicada no horizonte do clube – a sua caótica situação financeira, que, no longo prazo, ameaça sua própria viabilidade.

No dia 15 de fevereiro, representantes do Banco Genial compareceram à reunião do Conselho Deliberativo do Avaí e apresentaram um “raio-X” da situação financeira do clube, bem como hipóteses para a solução de nossos problemas – nas quais se inclui a adoção do modelo de Sociedade Anônima de Futebol (SAF), nos termos da Lei 14.193/2021.

Em primeiro lugar, entendemos que os prognósticos dos consultores do Banco Genial devem ser recebidos com alguma cautela, dado o natural interesse daquela instituição em participar, ainda que como intermediária, de uma eventual transformação do clube em SAF.

De todo modo, a apresentação dos profissionais perante o Conselho foi acompanhada de dados da realidade. E da realidade, por mais dura que seja, não podemos correr.

Eis o resumo de algumas informações prestadas pelos profissionais: 

a) A dívida total do Avaí, hoje, é estimada em valor superior a R$ 100 milhões, monta praticamente impagável, dados nossos níveis de receita.

b) Mesmo quando disputando a Série A, com receitas muito maiores, mal somos capazes de pagar os juros daquela dívida astronômica (que dirá a própria parte principal da dívida). As contas definitivas de 2022 serão apresentadas em breve, dentro de prazo estatutário, mas, segundo informações preliminares (e, portanto, pendentes de confirmação), tivemos um ano de responsabilidade financeira – havia a expectativa de um relevante superávit, em monta superior a R$ 10 milhões, que, no entanto, foi impactado por pendências antigas e acabou reduzido a um valor mais modesto (ainda assim importante). Nem assim, porém, foi possível arranhar a superfície do débito estratosférico, que tende a aumentar por conta dos juros;

c) Estatisticamente, a permanência na Série A exige um patamar de investimento que não somos capazes de alcançar – os concorrentes que disputam a permanência apresentam folhas de pagamento maiores que o dobro da do Avaí (e alguns deles ainda não conseguem escapar do rebaixamento).

d) Nossas despesas administrativas, hoje, não são superiores à média; pelo contrário, apresentam-se modestas.

e) O Avaí, na gestão anterior à atual, tornou-se inadimplente de parcelas do Profut, programa que permite a sistematização e o parcelamento de débitos tributários, bem como a redução de valores de juros e multas, o que deve resultar na sua exclusão do programa e aumentar de forma substancial sua dívida tributária.

Esse cenário é desafiador e aniquila por completo fórmulas simplistas tão frequentemente invocadas por aí. “Fazer um time pra ficar na Série A” ou “vender atletas da base” são soluções genéricas, que todo dirigente persegue desde sempre, e esbarram nos dados supracitados.

O endividamento, construído ao longo de anos, consome nossas receitas, sacrifica nossos investimentos e põe em risco a continuidade do clube.

A primeira etapa para o aperfeiçoamento de algo passa por entender e aceitar a realidade. Por isso, antes de mais nada, temos de admitir que, ao longo do tempo, dirigentes, Conselho Deliberativo, torcida e imprensa falhamos em fiscalizar o clube e exigir uma administração responsável de recursos. Durante décadas, focamos apenas no campo, nos resultados imediatos, nas contratações atuais, e permitimos que o clube chegasse a um ponto praticamente insustentável, graças a irresponsabilidades de sucessivas gestões. Adquirimos o hábito de tratar o endividamento como algo abstrato, um futuro distante, que jamais nos atingiria. Nós, que viríamos posteriormente a fundar o Movimento Nosso Avaí, também nos incluímos nisso: demoramos a olhar com mais zelo para essas áreas e começamos a propor esses debates quando a situação financeira do clube já estava fragilizada.

Feito esse mea culpa – que abrange todos os setores que orbitam o Avaí Futebol Clube -, é necessário enfrentar o problema e buscar soluções, sob pena de continuarmos caminhando rumo à bancarrota.

A principal possibilidade colocada sobre a mesa, até o momento, trata da transformação do clube em Sociedade Anônima de Futebol (SAF).

SAF, em resumo, é um tipo de empresa que possui incentivos específicos, inclusive tributários, na legislação brasileira. O modelo permite – mas não obriga – a venda parcial ou total do futebol para terceiros, como empresários ou fundos de investimento.

Há aqueles que acreditam que a SAF tem poderes mágicos. Que representa um bilhete de loteria premiado, uma salvação automática para nossas aflições.

Há aqueles que demonizam de antemão esse formato, seja por fetiches ideológicos, seja por infantis correlações com cases de fracasso específicos – como foi no arquirrival.

Não integramos nenhum dos dois grupos. Pensamos que o modelo pode ser benéfico ou maléfico, a depender de como conduzido e por quem conduzido. Pensamos que um investidor pode representar a melhoria de nossos maiores problemas financeiros, mas, ao mesmo tempo, nos preocupamos com a perda de poderes dos órgãos de representação dos associados e com os eventuais riscos à identidade do clube.

Dado o avanço de tal debate nos outros clubes brasileiros, é provável que, nos próximos meses, ele se intensifique dentro do Avaí. Teremos que discuti-lo com maturidade, para entendermos as oportunidades que se desenham e não cairmos em ciladas. Além disso, convém pensar em outras alternativas, sem jogar o enorme pepino que temos em mãos para debaixo do tapete.

Hoje, 13/03/2023, uma comissão do Conselho Deliberativo deverá apresentar suas conclusões e sugestões a respeito do futuro financeiro do clube. Poderá ser um ponto de partida para esses debates. Também se fala da criação da Liga Forte Futebol, uma nova competição nacional, que poderá alterar a dinâmica de distribuição de recursos e nos ajudar nessa jornada.

O Movimento Nosso Avaí, por meio de seus atuais representantes no Conselho Fiscal, Conselho Deliberativo e Assembleia Geral, desde já se coloca à disposição para participar das discussões, compartilhar os debates com seus seguidores e zelar pelos interesses da instituição e de sua torcida, para tentarmos salvar o clube de um destino trágico, comum a vários clubes que trilharam esse caminho da irresponsabilidade financeira.

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