Em nosso último texto, listamos alguns aspectos que, na nossa opinião, colocaram em xeque a estrutura do Departamento de Futebol do Avaí, com destaque para a reiterada não obtenção de objetivos esportivos, a inconsistência de escolhas e o baixo percentual de contratações acertadas. Com o intuito de melhor esclarecer as responsabilidades e o processo de contratação do Departamento de Futebol do clube, e até mesmo convidar os gestores a uma reflexão em cima dos erros cometidos, enviamos à Diretoria não apenas nossas críticas, mas 15 questionamentos. Como a consulta à Diretoria foi seguida do afastamento do Vice-Presidente do clube por motivos de saúde e da reformulação de boa parte do Departamento de Futebol, acontecimentos que exigiram o foco dos diretores nesse período, aguardamos com paciência as respostas às questões, que foram gentilmente enviadas pelo Presidente do Avaí, Júlio César Heerdt. Abaixo, publicamos as respostas que recebemos e, na sequência, nossas breves considerações sobre elas.
1. Como se dá, em resumo, o processo de contratação de atletas pelo Avaí Futebol Clube?
O ponto de partida é a identificação da necessidade de reforços do elenco e do perfil detalhado de cada atleta desejado e necessário para as diferentes posições. A partir do detalhamento desse perfil, é iniciada a análise dos jogadores disponíveis no mercado. Essa etapa tem apoio de uma metodologia específica, criada a partir de experiências implementadas em outros clubes e de estudos sobre o tema. O Avaí Futebol Clube mantém processos internos de análise de mercado e avaliação permanente de jogadores. O trabalho de campo começa com a atuação de olheiros que acompanham jogadores de diferentes times, em diversas competições. Esses profissionais avaliam atletas com apoio de critérios objetivos e subjetivos (força, velocidade, técnica, comportamento, entre outros) e alimentam um banco de dados que fica disponível para a equipe do departamento de futebol.
A equipe do departamento de futebol é responsável por “cruzar” as informações que definem a necessidade do clube com os dados detalhados sobre os jogadores disponíveis no mercado. Os atletas que passam por esse crivo podem ser acompanhados por mais algum tempo e há também avaliação de lances e atuações gravados.
Superadas as avaliações técnicas, é levado em conta o orçamento disponível e questões jurídicas (tipo do contrato atual, duração do vínculo com outros clubes, entre outros pontos).
Todo o material coletado e organizado é avaliado pelo departamento de futebol, que tem a palavra final sobre a contratação.
Antes da assinatura de contratos são feitos ainda exames médicos e avaliação fisiológica e clínica dos atletas.
2. Algo de tal processo foi fruto de inovações da atual Diretoria?
O banco de dados com informações organizadas e coletadas por olheiros foi criado pela atual diretoria. O sistema, que alcança o time profissional e também as categorias de base, vem sendo aperfeiçoado e alimentado com novos dados de maneira frequente. O acúmulo de informação vai ser importante para que os resultados sejam cada vez mais assertivos e também para a identificação de novos talentos. O sistema implantado pela atual diretoria inclui ainda o uso de tecnologia para acompanhar diversos lances de diferentes partidas de cada atleta – em substituição aos “DVDs” de empresários.
Este departamento introduziu 17 novos processos, em conjunto de parâmetros e metodologia de reuniões e compartilhamento de informações. Foi criado um banco de dados – Big Data. O clube investiu em equipamentos para coletar e acompanhar os principais dados de saúde e performance dos atletas.
Adicionalmente, utilizamos os softwares e banco de dados e imagens assinados com terceiros.
3. Quais especificamente são as responsabilidades de cada diretor no processo de contratação de atletas?
O diretor de futebol é peça chave em todo o processo. E aqui cabe destacar que o Avaí Futebol Clube tem um novo profissional nesse cargo – Eduardo Freeland, reconhecido e respeitado no mercado.
Em diferentes cargos, ele passou por alguns dos principais clubes do País. E como diretor de futebol, conquistou acessos com o Botafogo, em 2021, e com o Bahia, em 2022.
Infelizmente estamos enfrentando um momento difícil no campeonato brasileiro da série B. Mas fizemos mudanças importantes – primeiro na comissão técnica, agora na diretoria de futebol e acredito que vamos nos recuperar. O Eduardo conhece muito o mercado e já está trabalhando. Teremos boas novidades em um período bastante curto.
Além do diretor de futebol, as contratações passam pelo Diretor Administrativo, que avalia as questões orçamentárias, e pela presidência, responsável final pela assinatura dos contratos.
4. Qual o perfil e histórico desejado para o cargo de Diretor do Departamento de Futebol? O mesmo perfil foi perseguido com a contratação de William Thomas, Jorge Macedo e André Martins?
Há critérios pré-estabelecidos. O profissional deve ser reconhecido no mercado pela ética. Além disso, deve ter aderência aos processos implementados pelo clube e grande conhecimento de mercado, com experiência e reputação. Fundamental também ter aptidão para a gestão de elenco. No momento estamos recebendo o Eduardo Freeland, com um currículo extenso e muitos sucessos na carreira. Vamos dar a ele as condições de trabalho necessárias para que possa desenvolver suas ideias e seus projetos.
5. O Presidente e o Vice-Presidente do Avaí Futebol Clube têm participação direta na tomada de decisões de contratações do futebol?
A equipe do departamento de futebol é a principal responsável por diagnosticar as necessidades do elenco, identificar os atletas ideais para cada posição e conduzir as negociações – sempre com aval da diretoria financeira. Mas claro que é responsabilidade da presidência acompanhar de perto todo esse processo. Sou o responsável pela gestão do clube e sobre mim recaem muitas cobranças quando os resultados não vêm. Assumi um compromisso com o Avaí, com uma história cheia de glórias, e tenho a obrigação de acompanhar todos os processos de contratação e todas as mudanças no clube. Estou aqui na Ressacada todos os dias, desde a manhã até a noite, e acompanho tudo o que é feito. Meu papel é dar as condições para que cada profissional faça seu trabalho e cobrar os melhores resultados.
6. Todas as contratações seguem o mesmo processo interno ou cada uma pode se originar de uma indicação e processos diferentes?
Os processos que implementamos são sempre seguidos. Pode haver necessidade de acelerar o trabalho quando aparecem oportunidades de mercado ou necessidades emergenciais, provocadas pela lesão de atletas, por exemplo.
7. No processo de contratação, é considerado o orçamento disponível? Que órgão ou profissional garante a adequação das contratações às condições financeiras do clube?
Sim. O equilíbrio orçamentário é essencial. Nos últimos anos o Avaí sofreu muito com o descontrole de despesas. Em 2023, primeiro ano dessa gestão, pagamos mais de R$ 20 milhões em contas atrasadas. Nesse valor estavam incluídas diversas folhas de pagamento de atletas e funcionários. Um clube de futebol tem diversos compromissos – com a torcida, com os sócios e com aqueles que trabalham aqui. O atraso nos pagamentos, reflexo direto do desequilíbrio do orçamento, é inaceitável – e sempre tem reflexos, até na atividade esportiva.
Precisamos trabalhar pelo equilíbrio das contas. Nosso desafio é buscar receitas, controlar o orçamento e ter recursos para contratações. Garantir isso é atribuição principalmente da diretoria administrativa. Mas é trabalho também do presidente e do diretor de futebol. Estamos trabalhando e conseguiremos reforçar o elenco na janela de julho sem comprometer o orçamento.
8. Hoje, no Avaí Futebol Clube, há preferência ou limitação para a contratação de jogadores representados por empresários determinados?
Não há preferência ou limitação a ninguém. Mas todas as negociações precisam estar dentro dos quesitos estabelecidos pelo clube e que são iguais para todos.
9. Quanto aos treinadores, quem decide por suas demissões e contratações?
A contratação segue processos semelhantes aos dos atletas – com avaliação detalhada de critérios específicos para a função, obviamente.
A decisão por uma demissão leva em conta a gestão do grupo, o trabalho semanal, a necessidade de melhora permanente da performance dos atletas “pela mão do treinador” e a manutenção de um esquema tático alinhado às características do elenco e adequado para cada competição. A conquista de resultados também é essencial. A partir da avaliação desse quadro, a decisão por contratações ou demissões é do departamento de futebol, com a participação da diretoria executiva.
10. A contratação de técnicos e a formação de elenco foram realizadas com o propósito de levar para o campo alguma filosofia de jogo específica, pré-determinada pela Diretoria? Se sim, qual?
A filosofia de jogo é um balizador para a contratação de treinador e de atletas. Ela leva em conta o campeonato que disputamos e os adversários que enfrentaremos.
O Brasileirão é considerado um dos campeonatos mais difíceis do mundo. A série B é muito nivelada e disputada. Estamos em uma situação difícil e precisaremos conquistar pontos e vencer jogos para atingir nosso objetivo. Já estamos conversando sobre isso com o Eduardo Freeland. Ele tem grande conhecimento da série B, já conquistou dois acessos em dois anos consecutivos e vai nos ajudar a termos a melhor forma de jogo para essa disputa.
11. Por que o clube permaneceu com o cargo de Diretor de Futebol vacante no fim de 2022?
O ano de 2022 foi de muitas mudanças. William Thomas foi anunciado diretor de futebol em substituição a Felipe Ximenes e com um contrato de quatro anos. Tínhamos um projeto de longo prazo, e ele foi interrompido por questões de mercado. O Avaí infelizmente apresentava uma situação financeira bastante caótica e não tínhamos como disputar um profissional com um clube como o Internacional, dono de um orçamento muito superior ao nosso.
No início do Brasileirão, com o time montado, identificamos a necessidade de um gestor de futebol experiente; que já tivesse enfrentado a pressão de um clube médio na luta pela manutenção e chegamos ao nome de Jorge Macedo, que tinha um histórico de Internacional e Ceará.
Ele fez uma boa gestão de grupo, mas não conseguiu reforçar suficientemente o time na segunda janela de transferências. Após a saída dele, voltamos ao mercado.
Importante dizer que o mercado de profissionais de futebol é bem restrito; principalmente quando adotamos critérios rigorosos de seleção, o que pode tornar mais lento o processo de uma eventual contratação.
Em 2023, com a redução orçamentária, optamos por um profissional que tinha participado de montagens de times competitivos para a divisão. André Martins participou da montagem do time da Chapecoense e do Cruzeiro (campeões da série B).
12. Sabedor da possibilidade sempre iminente de uma troca de técnico e tendo passado por isso duas vezes em 2022, o clube não cogitou a contratação de um profissional para funcionar como auxiliar “fixo”?
O clube está à procura de um profissional que vai ocupar esse posto. A definição do nome passará também pela análise do novo diretor de futebol do clube, Eduardo Freeland.
A manutenção de um auxiliar fixo é importante para garantir a continuidade do trabalho mesmo diante da troca da comissão técnica. Importante acrescentar, porém, que, em todas as vezes em que foi requisitado, o Marquinhos Santos, um dos grandes ídolos da nossa história, demonstrou competência e disposição para o trabalho e para assumir a enorme responsabilidade que é dirigir o time do Avaí na beira do gramado.
13. Como a Diretoria Executiva avalia o trabalho do Departamento de Futebol em 2023?
Os profissionais que estiveram conosco até recentemente trabalharam duro e com bastante competência. Infelizmente, porém, não conquistamos os resultados que esperávamos e optamos por seguir um novo caminho. Trocamos a comissão técnica e já estamos trabalhando com o Eduardo Freeland no Departamento de Futebol. Tivemos a coragem de fazer mudanças importantes e profundas e precisamos concentrar nossa atenção nos desafios que estão diante de nós. Os dias têm sido de muito trabalho. O Freeland tem grande conhecimento de mercado e vai nos apoiar. O técnico Gustavo Morínigo trabalha intensamente para ajustar o esquema de jogo e tirar o melhor de cada atleta. E os profissionais do nosso elenco têm dado demonstrações de muita entrega e dedicação. Vamos nos recuperar na competição.
14. Estão sendo estudadas mudanças nos processos de contratação e na composição do Departamento de Futebol?
Os processos estão em constante aperfeiçoamento. Agora teremos aqui conosco um profissional respeitado e que acumula grande experiência – e conquistas – em diferentes times. O Eduardo Freeland poderá contribuir para melhorar o trabalho que estamos desenvolvendo.
15. O que esperar do clube na próxima janela de transferências? Ainda há orçamento disponível para reforços?
Temos um elenco com bons jogadores, que estão se dedicando ao máximo. Mas precisamos de reforços e traremos novos atletas. O Departamento de Futebol já está trabalhando e terá orçamento para contratações.
Nossas considerações:
Antes de mais nada, agradecemos a Diretoria por buscar responder as questões e trazer informações ao torcedor.
Do que foi explicado pelo Presidente, identificamos, como aspectos positivos, as informações de que novos processos estão sendo constantemente implementados no Departamento de Futebol, de que a tecnologia vem sendo paulatinamente introduzida nos processos de observação e contratação, de que não há influências de empresários sobre os processos, de que a gestão mantém seu compromisso com a saúde financeira do Avaí e de que o clube busca um profissional para a posição de auxiliar “fixo”.
As críticas formuladas na nossa última manifestação, entretanto, permanecem válidas. Não houve, a nosso juízo, uma explicação satisfatória para alguns dos problemas apontados por nós, como a pouca consistência das escolhas e a vacância de importantes cadeiras no Departamento do Futebol em 2022. Acreditamos que erros de decisão foram cometidos e que a gestão deve aprender com eles para levar o clube a melhores rumos.
Registre-se, também, que, em momento posterior aos questionamentos, a Diretoria optou por reformular o Departamento de Futebol, uma providência que consideramos oportuna, dados os fracos resultados entregues na temporada até então. Esperamos que, com essas mudanças, o Avaí melhore seu desempenho e tenha um segundo semestre muito mais tranquilo que o primeiro. Permaneceremos firmes no propósito de trazer ideias, com responsabilidade e honestidade, para ajudar o Avaí a se aperfeiçoar.
