Passados quase dois anos de gestão, a maioria das mudanças prometidas não saiu do papel

A atual gestão assumiu um papel oposicionista em relação ao ex-Presidente, então candidato à reeleição, e elegeu-se com um discurso focado na mudança. Firmou o compromisso de alterar radicalmente muitas das práticas até então adotadas no clube. E foi com essas promessas que recebeu mais de metade dos votos dos avaianos, inclusive os nossos. Diante disso, era de se esperar que a tônica de sua administração fosse a mudança.

No entanto, após a passagem de quase metade do mandato, constatamos que os movimentos de mudança foram tímidos. 

Não podemos negar que, no primeiro ano de mandato, a gestão financeira foi mais responsável que a do antecessor. O Avaí, caminhava a passos largos para a insolvência, acumulando prejuízos de dezenas de milhões – o que, fatalmente, logo o levaria a uma situação semelhante à do arquirrival -, e a atual gestão, de cara, promoveu algumas medidas para desacelerar esse problema, por meio de um relativo controle de gastos, da busca de novos recursos, do processo de Recuperação Judicial e da negociação com a Liga Forte Futebol. Além disso, implementou novas diretrizes em alguns setores. 

Contudo, ainda que reconheçamos esses esforços, isso é pouco para quem prometeu transformar o clube. O Avaí, infelizmente, continua longe do profissionalismo desejado. Continua sendo o clube que, por exemplo, tem suas informações internas constantemente vazadas para a imprensa; destina seu centro de treinamento a um torneio infantil em plena pré-temporada, prejudicando a preparação do elenco profissional; tem seus bares explorados de uma forma nebulosa e pouco satisfatória;  submete o associado a filas e outros transtornos quando do acesso ao estádio; promete ações por ocasião de seu Centenário, mas não as cumpre adequadamente; permite a utilização da cerimônia de comemoração do Centenário como plataforma de dado partido político; isso tudo sem maiores explicações ou a responsabilização de quem quer que seja. Permanece, também, sem consistência nas ações de transparência e na política de contratação de atletas, que dependem do sentimento pessoal do diretor da vez, sem uma diretriz bem definida.

A parte das finanças, provavelmente a mais importante das bandeiras da atual gestão, também passou a gerar preocupações em 2023. O aumento das despesas que se viu nas demonstrações periódicas publicadas até aqui, somado à manifestada intenção de adiantar certas receitas para fazer frente a obrigações, faz acender uma luz amarela.

O Presidente Júlio Heerdt, ao longo desses dois anos, trouxe à tona alguns dos absurdos ocorridos no clube antes de sua gestão, que levaram o Avaí a uma situação periclitante, mas, ao mesmo tempo, paradoxalmente, se cercou de muitas das mesmas pessoas que eram responsáveis por setores primordiais do clube naquela época. Também ofertou mensagens contraditórias ao promover, por repetidas vezes, homenagens públicas a protagonistas daquela gestão – cujos membros e simpatizantes, ironicamente, o achincalharam em variadas oportunidades.

Obviamente, o anseio por mudança não se confunde com um sentimento de terra arrasada ou desejo de afastar todo o corpo de colaboradores do clube. Não se trata disso. Olhando de fora, sequer há como se realizar uma avaliação precisa a respeito de tal questão, que compete aos gestores. Mas é claro que, ao se eleger diagnosticando problemas e prometendo mudanças drásticas, a gestão tinha o dever de promovê-las, nem que fosse reformando a cultura organizacional vigente – o que, entretanto, não parece ter ocorrido. 

Nos últimos anos, o Avaí foi atropelado por outros clubes médios do cenário nacional no quesito profissionalismo. Ficamos estagnados. Ainda vige no clube um sentimento de “clube familiar”, não compatível com o sucesso esportivo que pretendemos. Daí a urgência em se promover essa transformação, sob pena de perder o patamar conquistado a duras penas desde 1998.

Entendemos a dificuldade em se promover mudanças “com o carro andando”, principalmente quando os resultados em campo vão mal e a pressão é grande. Bem sabemos que há um certo número de pessoas, nos mais variados setores, que, por terem privilégios ou projetos pessoais em torno do Avaí, se sentem ameaçadas por essas reformas e se aproveitam dos momentos de fragilidade para minar os esforços nesse sentido. Ainda assim, reforçamos que o desejo de mudança foi o que levou os atuais mandatários ao comando do Avaí e que, portanto, a transformação do Avaí deveria ser a meta de seus dirigentes, ainda que sob o esperneio de detratores. Também entendemos que a demora para essas mudanças, de certa forma, impede a melhoria dos processos internos do clube e contribui para a não obtenção de seus objetivos, inclusive esportivos.

Se, antes, parecia-nos pouco razoável cobrar mudanças drásticas em curto espaço de tempo, agora, com o transcurso de quase dois anos, pensamos que faltou à Diretoria maiores esforços nesse sentido. É de se questionar se, de fato, pretendem realizá-las ou se essas promessas não passaram de meras plataformas eleitorais.

Ao expor essa nossa crítica geral à Diretoria, fomos informados, em suma, de que ela comunga do mesmo desejo de mudança e tem promovido o aperfeiçoamento gradual dos processos do clube, na medida do possível, considerando, principalmente, as limitações financeiras enfrentadas.

(A essência deste texto é um recorte do Promessômetro, publicação em que avaliamos a conformidade da gestão com os compromissos que firmou à época das eleições. Sugerimos a leitura do documento na íntegra).

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